Qualquer um que me conheça sabe que Ludvig Van Beethoven pra mim é um dos compositores mais geniais que existiu. Até eu costumo me pegar pensando que pena ele ter morrido, como se de alguma forma, ele ainda estaria por aqui, compondo e espalhando seu humor rabugento.
Como se não bastasse acha-lo genial por sua música, outro dia resolvi ler meu Grandes Compositores da Música Clássica do Beethoven, o primeiro de dois, lançado pela editora abril. Nunca tinha prestado atenção que havia alguns trechos do testamento de Beethoven. Se havia como admirar mais o homenzinho, agora o admiro.
Resolvi escrever isso hoje por dois motivos. Há pouco mais de um mês, morreu um dos meus maiores ídolos da música atual. Essa semana, outro.
Mas o que mais me motivou é um pedaço que fala que Beethoven esteve a beira do desespero em algumas ocasiões. Que sentimento pouco nobre é o desespero. Leva a perder por completo o raciocínio, chutar, gritar, chorar, dizer coisas sem sentido algum, todas levadas pelo desespero. Tão presente, tão incontrolável. Talvez, muitos dos atos cometidos por Beethoven, fossem absolvidos, se todos soubessem o desespero que a surdez trouxe. Muitos atos talvez fossem absolvidos se soubessem o desespero que toma conta dos humanos.
"Vocês, homens que me têm como hostil. obstinado e insociável, como são injustos! não conhecem as causas secretas que me fazem agir desse modo. (...) fui cruelmente repelido pela dolorosa experiência de ter um ouvido defeituoso! Não me era possível dizer às pessoas : -Falem mais alto, gritem, porque estou surdo! Como poderia divulgar a todos a falta de um sentido que eu deveria possuir num grau ainda mais elevado do que qualquer outra pessoa, um sentido que outrora fora em mim mais sensível que em qualquer dos meus colegas? Certamente não poderia fazer isso. Perdoem-me portanto, se me veem retraído, quando na verdade teria gosto de estar entre vocês. O meu infortúnio mortifica-me duplamente, porque além de tudo me torna alvo da incompreensão. (...) Mas que humilhação quando ao meu lado as pessoas ouviam o eco distante de uma flauta sem que eu pudesse distingui-lo... Ou quando chamavam a minha atenção para o canto de um pastor e eu incapaz de ouvi-lo! Estas circunstâncias levaram-me a beira do desespero e pensei, mais de uma vez, em pôr fim aos meus dias. Somente a música me deteve! Ah, parecia-me impossível deixar o mundo antes de ter dado tudo o que ainda germinava em mim. Por isso continuei esta vida miserável - verdadeiramente miserável - e suportei este corpo irritável que muda da melhor para a pior disposição com uma facilidade incrível. (...) Oh Deus! Tu contemplas do alto a minha miséria e sabes que ela está acompanhada de um amor pelas criaturas humanas e de disposição para as boas obras. Oh, Homens! Se algum dia lerem isto, pensem quão injustos foram comigo. Deixem que o que sofre tenha o seu consolo, encontrando alguém que, como ele, apesar das deficiências da natureza, fez tudo o que suas faculdades lhe permitiram realizar para pertencer ao mundo dos artistas de valor e dos homens de bem. (...) Anseio ir ao encontro da morte com alegria. (...) Vem, pois, quando quiser, oh Morte! Firme estarei para recebê-la. Adeus, e não se esqueçam completamente de mim, quando já morto.
Ludvig Van Beethoven
Heiligenstadt, 6 de Outubro de 1802"
RIP Peter
RIP Dio